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sexta-feira, 4 de maio de 2012



"Diante das conhecidas imagens eu me perguntava se, em épocas passadas, os homens teriam saudade das épocas passadas, como eu, nesta manhã de estio, tinha- como se os tivesse conhecido- de certos modos de viver que o homem perdera para sempre" (pag.39)


"Se nesses países morria-se por paixões que fossem incompreensíveis, nem por isso a morte era menos morte. Ao pé de ruínas contempladas sem orgulho de vencedor, eu tinha posto o pé, mais de uma vez, sobre os corpos de homens mortos por defender razões que não podiam ser piores que as que aqui se invocavam" (pag.57)

"O passado não é imaginável para quem ignora o guarda-roupa, a decoração e o cenário da história" (pag.109)

"Com a mútua aprendizagem que implica o forjamento de um casal, nasce sua linguagem secreta. Já vão surgindo do deleite aquelas palavras íntimas, proibidas a outros, que serão o idioma de nossas noites. É invenção a duas vozes, que inclui termos de posse, de ação de graça, desistência dos sexos, vocábulos imaginados pela pele, ignorados apelidos-ontem imprevisíveis- que nos daremos agora, quando ninguém puder ouvir-nos. Hoje, pela primeira vez, Rosario,  me chamou por meu nome, repetindo-o muito, como se as sílabas tivessem de voltar a ser modeladas- e meu nome, em sua boca, adquiriu uma sonoridade tão singular, tão inesperada, que me sinto como ensalmado pela palavra que mais conheço, ao ouvi-la tão nova como se acabasse de ser criada" (pag.168)

"Um dia os homens descobrirão um alfabeto nos olhos das calcedônias, nos pardos veludos da falena, e então se saberá com assombro que cada caracol manchado era, desde sempre um poema" (pag.228)


"Uma obra se construiu em meu espírito; é coisa para os meus olhos abertos ou fechados, soa em meus ouvidos, assombrando-me pela lógica de sua ordenação. Uma obra inscrita dentro de mim mesmo, e que poderia fazer sair sem dificuldade, fazendo-a texto, partitura, algo que todos apalpassem, lessem, entendessem" (pag.229)


"Há atos que levantam muros, cipos, marcos, em uma existência. E eu tinha medo do tempo que se iniciara para mim a partir do segundo de que me fizesse Executor" (pag.249)


"Sinto que terei de combater a mais terrível de todas as tiranias: a que costumam exercer os que amam sobre a pessoa que não quer ser amada, auxiliados pela tremenda força de uma ternura e uma humildade que desarmam a violência e calam as palavras de repúdio. Não há pior adversário, numa luta como a que vou deflagar, que aquele que aceita todas as culpas e pede perdão antes que lhe indiquem a porta" (pag.261)


"Mundos novos têm que ser vividos, mais do que explicados. Aqueles que aqui vivem não o fazem por convicção intelectual; acreditam, simplesmente, que a vida suportável é esta e não outra. Preferem este presente ao presente dos fazedores do apocalipse. O que se esforça para compreender  muito, o que sofre as aflições de uma conversão,  o que pode alimentar uma ideia de renúncia ao abraçar os costumes daqueles que forjam seus destinos sobre este pântano original, em luta travada com as montanhas e as árvores, é homem vulnerável porque certas potências do mundo que deixou para trás continuam sobre ele" (pag.296)

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